Resiliência Comunitária

No Brasil, Bancos de Alimentos Elevam e Tiram Lições de Grupos Indígenas

Os bancos de alimentos no Brasil têm uma filosofia que seguem ao abordar comunidades indígenas para oferecer apoio.

“Não sou eu que tomo as decisões, são as próprias comunidades”, diz Talitta Albuquerque, diretora do banco de alimentos Mesa Brasil do Sesc, no Ceará.

O Sesc Mesa Brasil, a rede de mais de 90 bancos de alimentos em todo o Brasil e membro certificado da The Global FoodBanking Network, apoia comunidades indígenas em todo o país. Esse tipo de trabalho se tornou um foco no Ceará, onde o governo reconhece 15 diferentes “comunidades tradicionais”, um termo usado para descrever indígenas, afro-brasileiros e outros grupos distintos de pessoas em todo o país.

Na última década, o banco de alimentos vem desenvolvendo programas com comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais em todo o estado, e cada um deles começou com um mapeamento e uma análise completos, diz Paulo Leitão, coordenador de serviços sociais que lidera o alcance em grupos tradicionais.

“Essas comunidades são profundamente conectadas às suas terras, e cada uma tem maneiras únicas de se organizar e fornecer e compartilhar alimentos para a comunidade”, diz Leitão.

Entender esses elementos é essencial. Por exemplo, entregas de bancos de alimentos complementam ou fornecem ingredientes que combinam bem com dietas locais. O Mesa Brasil oferece aulas de culinária e nutrição em muitas comunidades, garantindo que os cozinheiros locais ocupem o centro das atenções.

“Quando nós, como banco de alimentos, queremos entregar alimentos a uma comunidade, precisamos garantir que não estamos interrompendo práticas e dietas tradicionais”, diz Leitão.

Ao começar a trabalhar com a comunidade Cariri há quase uma década, Leitão aprendeu que nas terras altas, onde a maioria de suas aldeias está localizada, eles cultivavam uma abundância de mandioca, uma raiz vegetal comum em sua culinária tradicional. Por causa desse excedente, muitas aldeias já tinham o costume de trocar mandioca por frutas de comunidades em áreas mais úmidas ou peixes de aldeias costeiras para atingir uma dieta equilibrada. Eles sempre almejaram autossuficiência e autonomia.

Mas os desafios estão aumentando.

“As mudanças climáticas estão devastando nossa biodiversidade e afetando nossa segurança alimentar durante os períodos de seca no semiárido nordeste do Brasil”, afirma Vanda Lucia Roseno Batista, presidente da Articulação dos Povos Indígenas do Cariri, que lidera a parceria com o Sesc Mesa Brasil.

Ela diz que o banco de alimentos se adaptou constantemente às suas necessidades locais em mudança. Especialmente na estação seca, o banco de alimentos entrega produtos frescos para a aldeia Cariri para complementar o que eles cultivam localmente.

“[O apoio] contribui para a sustentabilidade alimentar da nossa aldeia durante todo o ano”, diz Roseno.

Ao longo da costa do Ceará ficam muitas das aldeias do povo Tapeba. Quando o Sesc Mesa Brasil começou a extensão aqui, eles conheceram uma professora, Margarida Tapeba, que estava lutando para manter os jovens Tapeba locais na escola. Refeições boas e consistentes são uma maneira de ajudar nisso.

“O programa Sesc Mesa Brasil nos dá a oportunidade de oferecer alimentação nutritiva e de qualidade aos alunos”, afirma.

Margarida Tapeba, a teacher from the Tapeba Indigenous School and liaison for Sesc Mesa Brasil programs in Caucaia, Brazil.

O programa de alimentação escolar ajuda a garantir a sobrevivência do povo Tapeba, ela argumenta, porque os jovens têm mais probabilidade de levar uma vida saudável e próspera em suas terras nativas.

Em 2024, programas de bancos de alimentos para comunidades indígenas no estado do Ceará doaram 87 toneladas de alimentos para 14 organizações lideradas pela comunidade, fornecendo apoio nutricional e educacional para 2.323 famílias de sete grupos indígenas diferentes.

Preservar e promover práticas tradicionais

“Você não pode pensar no Brasil como uma nação sem nossas comunidades tradicionais”, diz Albuquerque. “Nossa história está com elas.”

No Brasil, a constituição protege as terras e os costumes das comunidades tradicionais, que incluem grupos indígenas pré-colombianos, comunidades afro-brasileiras conhecidas como quilombolas, e uma grande variedade de comunidades, como agricultores tradicionais, pescadores e artesãos.

No Ceará, e em grande parte do Brasil, autoridades tentaram apagar comunidades tradicionais, começando com a colonização portuguesa. Línguas, vestimentas e costumes indígenas foram proibidos até a década de 1980. Comunidades foram deslocadas e roubadas de suas terras, frequentemente por meio de força letal.

“Há muito a reparar na forma como historicamente tratamos essas comunidades”, diz Albuquerque.

Ela vê o trabalho de banco de alimentos como parte de um projeto nacional maior para preservar e garantir o bem-estar das comunidades tradicionais. Segurança alimentar e nutrição são uma parte importante disso. Salvaguardar e elevar as tradições alimentares indígenas é outro elemento.

O apoio do Sesc Mesa Brasil “nos dá esperança, alegria e a certeza de que não estamos sozinhos como comunidades tradicionais e que a dignidade de cada ser humano está sendo preservada”, afirma Tapeba.

Há 10 anos, o Mesa Brasil, em conjunto com a entidade de assistência social Sesc, realiza anualmente um evento Herança Nativa evento, onde todas as 15 comunidades tradicionais do estado do Ceará se reúnem para uma feira para mostrar seus costumes e cultura. O Sesc Mesa Brasil organiza oficinas de cultura alimentar na feira, onde um representante de cada comunidade ensina suas tradições e receitas alimentares locais.

Roseno, que faz parte da comunidade do Cariri, traz vários pratos tradicionais para o evento, expõe cerâmicas tradicionais de barro e participa com outras mulheres enquanto elas realizam suas atividades tradicionais. dança do coco dança. Ela diz, “A troca de conhecimento entre diferentes comunidades tradicionais do Ceará aumentou a autoestima das nossas mulheres e fortaleceu nossa cultura culinária e nossa luta coletiva [como comunidades tradicionais do Brasil].”

Tapeba diz que aprecia a abordagem holística de apoio do Sesc Mesa Brasil.

“A Mesa Brasil está presente antes, durante e depois dos eventos culturais, dando voz a muitos que, para sobreviver, tiveram que permanecer em silêncio por décadas e até séculos”, afirma.

O Sesc Mesa Brasil no Ceará espera continuar expandindo programas para eventualmente alcançar comunidades de todos os 15 grupos tradicionais oficialmente reconhecidos no estado. Como muitas dessas comunidades são focadas na agricultura familiar, elas estão explorando maneiras de fornecer mais suporte agrícola.

“Nosso objetivo com tudo isso é ajudar essas comunidades a se tornarem autônomas para que, com o tempo, não precisem do apoio do banco de alimentos”, diz Albuquerque.

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