Como o Sesc Mesa Brasil foi além após as enchentes
16 de julho de 2024
No dia 29 de abril, dias de fortes chuvas no estado mais ao sul do Brasil, Rio Grande do Sul, atingiram um ponto de ruptura. A forte chuva não foi incomum para a temporada - a mesma região havia inundado apenas um ano antes - mas desta vez, as chuvas foram sem precedentes. Os rios transbordaram, deixando pequenas cidades e grandes cidades como Porto Alegre cobertas por metros de água.
Foi a pior enchente no Brasil em quase um século e um sinal do perigo cada vez maior de um planeta em aquecimento. Milhões ficaram sem energia, água e serviço de telefone ou internet. Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas, enquanto outras ficaram presas atrás de estradas inundadas e pontes destruídas. As autoridades relataram 170 mortes nas enchentes.
Um dos principais intervenientes que apoiaram os esforços do governo foi Sesc Mesa Brasil, uma rede de 95 bancos alimentares e membro da The Global FoodBanking Network (GFN). Os bancos alimentares são frequentemente responsáveis pela resposta à intensificação dos desastres naturais relacionados com o clima, porque têm laços pré-existentes nas suas comunidades e a experiência logística para entregar produtos onde são necessários. Como parte da organização sem fins lucrativos de serviços sociais Sesc, que possui instalações recreativas e assistenciais em todo o país, o banco de alimentos membro da Mesa Brasil no Rio Grande do Sul conseguiu responder imediatamente à crise e ajudar a fornecer cuidados e abrigo aos deslocados.
Por meio da GFN, Canpotex, Corteva e a Fundação John Deere enviaram financiamento emergencial para apoiar diretamente o trabalho do Sesc Mesa Brasil, fornecendo alimentos e outros suprimentos essenciais a centenas de milhares de vítimas das enchentes.
Mári Estela Kenner, gerente assistencial e de saúde do Sesc do Rio Grande do Sul, conversou com a GFN sobre os momentos iniciais após as enchentes e o complicado trabalho de resposta aos desastres.
Funcionários do Sesc em Montenegro, Rio Grande do Sul, distribuem alimentos, água, roupas e produtos de higiene pessoal para pessoas desalojadas pelas enchentes. (Foto: Sesc Mesa Brasil)
GFN: Como foram as primeiras horas e dias após as enchentes? O que você sentiu quando começou a entender o impacto das enchentes?
Kenner: As primeiras horas e dias foram gastos ajudando pessoas em áreas inundadas e evacuando áreas de risco. A experiência foi diferente de tudo que já passamos antes. Tínhamos lembranças das enchentes de 2023, mas depois de alguns dias entendemos que a escala e o impacto dessas enchentes seriam muito piores, impactando muitas partes do estado do Rio Grande do Sul simultaneamente. Inicialmente houve um sentimento de impotência mas ao mesmo tempo pensávamos nas ações imediatas que pudessem mitigar o impacto.
Quando começou a resposta do Sesc Mesa Brasil à emergência?
A resposta de Mesa é sempre imediata. Ativamos as redes nacionais de apoio, identificamos locais de recebimento de doações com apoio da Defesa Civil e avaliamos nossas próprias instalações atingidas pelas enchentes, tudo isso sem deixar de atender as pessoas em nossas instalações que continuaram funcionando.
Como foi a resposta do Sesc Mesa Brasil no dia a dia?
Implantamos diversas linhas de ação. Uma delas foi receber e distribuir doações, tanto de suprimentos emergenciais quanto de alimentos: em pouco mais de um mês após a enchente (até 4 de junho), distribuímos 358 toneladas de alimentos, 167 mil peças de roupas, 111 mil litros de água, 90 mil itens de higiene e limpeza, 21 mil utensílios domésticos, como colchões e roupas de cama, e 5 toneladas de ração para animais de estimação.
Outro foi oferecer refeições e banho nas instalações do Sesc em Canoas. Estávamos fornecendo chuveiros para 1.000 pessoas por dia e 1.500 refeições por dia.
Também oferecemos hospedagem e quatro refeições por dia para 300 pessoas deslocadas em cada uma das unidades do Sesc em Montenegro, Camaquã e Protásio Alves.
Muitas pessoas no Rio Grande do Sul perderam tudo quando suas casas foram inundadas. No primeiro mês após a enchente, o Sesc Mesa Brasil distribuiu 358 toneladas de alimentos, 167 mil peças de roupas, 111 mil litros de água, 90 mil itens de higiene e limpeza, 21 mil utensílios domésticos como colchões e roupas de cama e 5 toneladas de ração para animais de estimação. (Foto: Sesc Mesa Brasil)
Quão difícil foi a logística e distribuição dos produtos devido aos danos e às chuvas contínuas?
A dificuldade de logística terrestre tem sido enorme, pois temos muitos bloqueios em todo o estado. Portanto, pode levar muito tempo para que as doações cheguem ao seu destino, mas nós as levamos até o seu destino. Foi necessária muita coordenação com os nossos parceiros e outras organizações de ajuda humanitária [para garantir] que os alimentos também pudessem chegar às regiões sem acesso à terra, [onde são] mais necessários. Nesses casos, coordenamos com a Defesa Civil para que entregassem as doações de helicóptero.
Você pode nos contar sobre alguém que você conheceu que foi atingido por enchentes e foi atendido pelo Sesc Mesa Brasil?
Há muitas histórias de perdas, mas também muitas de solidariedade. Sempre tivemos grande preocupação com os mais vulneráveis, especialmente as crianças e os idosos. Uma [pessoa que] seguimos de perto estava se abrigando conosco. Ele era um homem idoso, estava sozinho e tinha dificuldade para andar e falar. Ele teve alta do hospital e se perdeu em Porto Alegre no dia da enchente. Uma das preocupações em situações como esta ao abrigar pessoas - trabalho que vai além de nossas responsabilidades normais - está tentando reunir famílias. Com a rede de apoio das nossas dependências do Sesc, depois de alguns dias conseguimos encontrar a irmã dele, que também o procurava. Hoje, ele está reunido com sua família em outra cidade. A família ficou muito grata por todo o cuidado. Nosso sentimento também é de gratidão por podermos tornar possível algo assim dentro de um cenário tão difícil.